domingo, 2 de dezembro de 2007

Um pouco sobre o Creative Social São Paulo.

Tive a honra de participar na última semana do Creative Social, um encontro que reúne diretores de criação das principais agências interativas o mundo. Puta experiência. Além de poder trocar idéias com os caras que têm feito os melhores trabalhos dos últimos tempos, a edição brasileira preparou uma agenda com apresentações de primeiríssima linha, com a presença do Andrucha Waddington falando de seus filmes e seus trabalhos com publicidade, o Speto defendendo a espontaneidade e integridade no grafite brasileiro, o Ronaldo Lemos, diretor do Centro de Tecnologia Social da FGV traçando um panorama dos novos modelos de propagação cultural, a Camila Yahn falando do rejuvenescimento do cenário da moda no Brasil e o Dedé Laurentino, falando das escolhas de sua carreira e detalhando o processo criativo do seu primeiro livro.

Enfim, só gente boa, papo bom e bastante descontração.

Além das palestras informais, na sexta rolaram algumas mesas redondas com os criativos e nosso grupo discutiu sobre como atrair e desenvolver novos talentos para a propaganda interativa. Um dos pontos que eu levantei foi a popularidade que os publicitários tradicionais têm no nosso país, fato que não é tão comum fora daqui. Nomes como Nizan Guanaes, Washington Olivetto, Duda Mendonça são referências comuns inclusive fora do meio publicitário (nossas mães conhecem todos). Existe, portanto, um certo glamour em ser publicitário no Brasil, o que naturalmente atrai talentos para a propaganda tradicional.

Outro ponto que discutimos foi a falta de especialização do sistema educacional. Na maioria dos países representados em nossa mesa de discussão, quando um jovem que cursa publicidade quer aprender a criar para a internet, é lamentavelmente jogado numa sala para aprender Flash e Dreamweaver. Assim, o aprendizado acaba se tornando técnico, superficial, pouco estimulante e incapaz de transmitir todas as possibilidades criativas que a web oferece.

Dessa forma, todo esse déficit educacional, aliado à ausência de glamour do nosso mercado online contribuem para que nossos futuros criativos cheguem ao mercado com a mentalidade míope de querer criar apenas comerciais para a TV ou anúncios para a Veja, esquecendo-se de que dá para escrever roteiros para web (o GP de filmes de Cannes desse ano foi um filme criado para a internet), fazer títulos para banners, textos longos para e-mails, criar sites interativos com vídeo, aplicativos mobile, e muito mais.

Infelizmente, essa galera chega ao mercado sem saber que a comunicação na internet abrange uma infinidade de recursos que extrapolam as fórmulas consagradas do offline, (anúncio com foto + título ou roteiro de 30”com piadinha no final, etc..).

Parênteses. Não estou aqui tentando difamar um ou outro meio. Não há porque polarizar. E nem é uma questão de falar que esse é melhor que aquele, ou aquele outro, mas sim de contestar um modelo mental que atrapalha o desenvolvimento do nosso mercado como um todo, e cujas bases já não mais se sustentam em fatos.

Bom, voltando ao evento, nosso papo lá terminou com a certeza de que temos um longo caminho pela frente. Como figuras representativas da criação interativa, temos a obrigação de levar informação aos jovens para que eles tenham uma visão um pouco mais realista (e por que não glamourosa) do nosso mercado, que é, talvez, mais dinâmico, jovem, descontraído e aberto a inovações.

Nessa caminhada, fiquei sabendo que os suecos estão bem à nossa frente. Como me disse o Bjorn Hoglund, diretor de criação da Daddy de Gothenburgo, na Suécia a publicidade online já está totalmente consolidada. Devido ao sucesso das agências interativas do país, capitaneadas pela Farfar de Estocolmo, hoje em dia a grande maioria dos suecos quer criar para o mercado digital, inclusive muitos profissionais que atuam na propaganda tradicional.

A boa notícia para nós da internet é que as perspectivas são ótimas. As verbas já estão migrando da publicidade tradicional para a publicidade online, principalmente na Inglaterra e USA. Nossos clientes já começam a acordar para o retorno de investir em ações interativas, construindo um diálogo muito mais rico e dinâmico com seus consumidores. E a TV interativa caminha para sacudir de vez essa história toda.

Por isso, aqui vai um conselho. Se você é jovem e pensa em fritar seus neurônios numa carreira criativa, procure pesquisar antes de virar a cara para a publicidade interativa. Converse com as pessoas da web, veja alguns anuários online, pesquise as tendências. Pode acreditar, existe um mundo virtual repleto de oportunidades reais te esperando. Abrace essa oportunidade, sem pré-conceito.

Até porque, particularmente, não acredito muito nessa divisão entre propaganda on e offline.

Mas isso, além de invalidar todo esse artigo que você acabou de ler, mereceria um novo post. E tá tarde...