quarta-feira, 23 de abril de 2008

O "estranho" e a propaganda: como abrir uma pasta nova no cérebro do consumidor.



Trabalhava na Almap no ano passado quando alguém me mandou esse vídeo pelo MSN. Assisti a primeira vez e falei com um colega: esse filme é foda, queria muito ter feito. Alguém comentou que era divertido, mas não “em termos de propaganda”, que era um lance mais caseiro, mais pra rir e mandar pros outros, não para ser uma referência de propaganda ou ganhar prêmio. Será? Discordei de novo e assisti mais umas 10 vezes antes de mandar pros meus amigos.

Semana passada estava lendo uma matéria do Wilsinho no site do CCSP, sobre o D&AD, e vi que e esse filme tinha entrado no livro do festival, indiscutivelmente um dos mais difíceis do mundo. Achei animal. O filme é simples, despretensioso, estranho mas não é gratuito: ele vende o poder que a dança tem de contagiar as pessoas, o que é totalmente pertinente para o produto – um game de dança.

Bom, mas chega de falar de um filme só. Na verdade usei-o como gancho pra falar de um componente presente em vários outros filmes recentemente premiados: a estranheza. Acho a estranheza um caminho criativo bastante eficaz, cientificamente eficaz, talvez. Por que? Pela forma com que o nosso cérebro processa informações. Diariamente, somos expostos a milhões de estímulos. Cada vez que precisamos processar um novo estímulo, o cérebro procura na memória experiências similares (imagine que nossa memória seja um HD, é como se rolasse um search em todas as pastinhas da sua vida) . Se o cérebro reconhece a informação em uma dessas pastinhas, ela nem chega a ser registrada e você reage de acordo com sua experiência anterior – é por isso que você não pensa em cada movimento que faz para dirigir um carro, suas reações são automatizadas em função de sua experiência anterior.

Por outro lado, se a informação a ser processada é inteiramente nova, você precisa registrá-la como referência para o futuro (criar uma nova pastinha no HD do seu cérebro). Isso faz com que a sua reação a essa informação inédita deixe de ser automatizada e passe a ser única, o que gera uma experiência mental muito mais forte e marcante.

Assim, ao explorarmos em nossa comunicação universos estranhos, desconhecidos, nós automaticamente ganhamos do consumidor uma predisposição inconsciente de se envolver com o enredo. Cria-se uma tensão que, quando aliviada pela apresentação de um produto pertinente, é arquivada no cérebro como uma experiência nova e gratificante (o famoso recall).

Pra resumir, acho que na hora de criar, vale evitar o famoso CTRL+C CTRL+V de nossas experiências e mandar ver um CTRL+N > New Folder, para que a nossa mensagem não se limite a permanecer por alguns segundos (30”?) na memória RAM do consumidor, mas sim que seja armazenada para sempre em seu HD.

Nossa, acho que viajei nesse post. Já foi... O que eu queria dizer é que tenho visto cada vez mais vídeos "estranhos", com idéias simples, às vezes primárias e de produção barata se destacarem nos festivais, o que tem dado uma boa arejada no nosso mundinho publiça. Acho que em algum lugar nos parágrafos acima a coisa deu uma desandada...

Bom, anyway, seguem outros exemplos de vídeos deliciosamente esquisitos (se tiverem mais me mandem que eu publico aqui):