quarta-feira, 8 de julho de 2009

Artigo p/ Propmark "Impressões sobre Cyber"


Pude acompanhar de perto o que rolou em Cannes esse ano e queria dividir aqui algumas impressões sobre Cyber, categoria em que numericamente o Brasil teve seu pior desempenho nos últimos tempos. Foi muito difícil arrancar shortlists para o Brasil nesse ano, tivemos somente 8, e leão foi mais suado ainda, apenas 2, 1 de prata para a Sun MRM e um de bronze para a DM9. Coisas como o viral do Bruce Lee, a Corrida de Screensavers da Intel, o Cartão de Natal da AKQA e Whooper Virgins não saíram do Shortlist. Ou como o belo case T-Racer, criado pela AgenciaClick para a Fiat, que não entrou no Shortlist.

Enfim, foi absurdamente competitiva essa categoria esse ano, agências brasileiras consagradas e respeitadas mundialmente em Cyber como a Gringo, a Thompson, a Mccann, a AgenciaClick e a própria Wunderman, ficaram de fora até do Shortlist, o que é uma pena.

Quando as pessoas me perguntavam se eu não estava feliz por a DM9 ter sido a agência mais premiada em Cyber do país, minha resposta era sim e não. Sim por termos de fato conseguido metade dos shortlists brasileiros (4) e termos saído de lá com um leão, somando 6 pontos. Mas, não, por achar que o desempenho do nosso mercado de internet como um todo, inclusive o da própria DM9, não reflete o potencial criativo das nossas agências e profissionais. Acho que devemos entender essa queda de rendimento não como uma catástrofe, mas como uma oportunidade de aprendizado, para compreender o que mudou no cenário mundial e correr atrás pra virar o jogo pro Brasil nos próximos anos. E é aí que eu queria entrar: nos aprendizados.

Um deles é que nenhuma campanha de internet sobrevive no Palais sem uma estratégia de divulgação bem feita. Todos os ouros de Cyber desse ano foram para cases que os jurados já conheciam antes de chegar lá. São cases que em algum momento do último ano, viraram pauta do mundo em blogs, redes sociais e sites especializados. Isso pesou muito na hora de soltar os leões.

O segundo aprendizado é sobre otimização das inscrições. Se você tem uma idéia boa que passou pela internet, não considere apenas a categoria Cyber na hora de inscrever. Coloque ela em mídia, em design, press, marketing direto, filme. A mesma idéia pode ganhar um ouro em uma e não sair do shortlist em outra. Ou ganhar 3 Gps em categorias distintas, como o case do Melhor Job do Mundo. Sim, é fato, o digital tomou conta do festival, quase todas as palestras ninistradas em Cannes eram sobre algum tema relacionado ao digital. E isso valeu também para a premiação, o GP de Filme, por exemplo, que é a categoria mais tradicional do festival, foi dado para um site.

E por fim, o último aprendizado, que é menos novidade que os outros, é com relação à qualidade e grandiosidade de produção dos trabalhos. As peças premiadas têm produções impecáveis e alguns leões inclusive são definidos pela qualidade e gigantismo da produção. Cabe ao Brasil equilibrar melhor os valores entre mídia e produção e entender que uma boa idéia muito bem produzida receberá bastante mídia espontânea, o que compensará uma possível redução dos investimentos de mídia em prol de seu acabamento final.

Sobre esses aprendizados, conversei bastante com o Eco, nosso jurado esse ano. Fomos muito bem representados por ele lá, ele fez o possível para defender os cases brasileiros, mas o fato é que tinha muita coisa boa na disputa.

De maneira geral as coisas premiadas eram muito boas, gosto de todos os ouros, gosto do shortlist apesar de sentir falta de algumas peças, mas particularmente, não gostei muito dos GPs. Com exceção do Melhor Job do Mundo, que eu adoro, acho os dois outros GPs, Fiat Eco Drive e Batman Why so Serious? bem discutíveis.

Ambos são bacanas, merecem o ouro, mas acho que talvez eles careçam um pouco de originalidade. Pra mim, o GP tem que sinalizar uma forma diferente de fazer as coisas, um caminho novo que encha os olhos da indústria, que reinvente o produto que entregamos diariamente a nossos clientes. E aos meus olhos, o Fiat Eco Drive é um raciocínio bem similar ao do Nike Plus, só que aplicado à indústria automobilística. É legal, passa uma mensagem positiva, mas não acho tão inovador. Eu, particularmente, teria dado o GP dessa categoria ao Whooper Sacrifice, que apesar de não passar uma mensagem politicamente correta (troque seus amigos por um hambúrguer), mudou pra sempre a forma da propaganda pensar as redes sociais. É maluco, diferente, ousado e teve uma adesão espontânea gigantesca, mexendo de verdade com as pessoas que participaram.

Por fim, sobre o Batman Why so Serious?, é também uma ação muito legal, mobilizou milhares de pessoas mas não deixa de ser mais um Arg. Ao meu ver está muito dentro de uma fórmula pra ter o peso de um Grand Prix, apesar de ter sido brilhantemente executado. Mas tudo isso, repito é apenas minha opinião, de qualquer forma estão todos de parabéns por terem chegado lá e são cases que eu daria tudo para assinar. ; )

Bom é isso. Espero ter ajudado a esclarecer um pouco do que rolou, talvez o próximo passo seja absorver esses aprendizados e nos unirmos para virar o jogo no ano que vem. Talento nós temos, e muito. A disputa ficou bem mais difícil, mas se conseguirmos cuidar de todo o resto (produção, divulgação e inteligência de inscrição) aí sim o nosso talento criativo, que é mundialmente reconhecido, vai voltar a fazer a diferença. Bola pra frente!