segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Final Stage. Press start to continue.

Comecei minha carreira no digital. Com uma pasta offline. Substituindo uma redatora grávida. Agarrei a chance, ganhei alguns prêmios,um de meus leões nessa época, e me estabilizei no On. Passei por agências exclusivamente digitais. E por agências tradicionais que também fazem o digital. Apesar de odiar discutir On ou Off, achar antigo, para fins práticos de compartilhamento de aprendizados, me permito aqui pontuar, por experiência própria, que esses 2 mundos têm suas peculiaridades.

O On é mais leve. Mais descompromissado. A galera compartilha mais. Tem sede em fazer logo, fazer muito, testar, errar, acertar. Por um lado, isso é bom por gerar idéias que parecem ingênuas, mas que dão muito certo. Por outro, você precisa forçar sempre a mão pra que a galera descarte as primeiras idéias. Senão, pode ser que antes que você perceba, uma delas já tenha sido executada. Às vezes, eles se apegam demais à tecnologia, deixando um pouco a comunicação de lado. Ajuda-se mais. Sofre-se menos.

O Off é mais corporativo. Focado. Os criativos geram muitos conceitos. Abrem muitos caminhos. Materializam rápido, encaixam rápido os conceitos em anúncios, filmes. É impressionante! O cuidado aqui é outro, é conseguir inovar, não deixar se levar por fórmulas ou caminhos consagrados. Eles se preservam mais. Tem sempre uma postura firme, uma auto-confiança aparente. Um cuidado constante com a auto-imagem e uma competitividade velada com amigos, da mesma agência ou não. Enfim, um talento super lapidado.

Como juntar os 2 mundos? Essa é a pergunta que toda agência tenta responder nos últimos anos. Um desafio que sempre me atraiu. Sempre me achei capaz de lidar com os 2 universos. Até porque sempre enxerguei um universo só: o da comunicação. O da comunicação que mexe, encanta, emociona, surpreende. É esse tipo de entrega, em alto nível, que pode valer um Green Card pra trafegar nos 2 mundos.

Pra mim, que vim do On, esse caminho de unificação começa por um difícil desafio: conquistar o respeito dos criativos do Off. E aí não tem atalho: você deve provar que tem brilho criativo num primeiro momento. Pra só depois mostrar que também entende de marca, de conceito, e sabe ter uma visão macro sobre clientes, agência, fornecedores, e sobre o seu próprio papel ali dentro.

Pra dar esse primeiro passo não tem outro jeito senão ter uma idéia foda, de preferência colaborativa e participativa, que os envolva no processo e faça os enxergar que você tem brilho. E a idéia tem que dar certo. Muito certo.

Sem esse aval, fica difícil. Há o risco de você ser ignorado, ou então virar um consultor de gadgets e novas tecnologias. E quando tiver que liderá-los, trazer um novo olhar, conduzir para um formato mais amplo, direcionar, inspirar, motivar, será como tentar parar um navio com as mãos.


Depois de ganhar o respeito dos criativos, tem a fase de ganhar o respeito das outras áreas da agência. Atendimento. Mídia. Planejamento. Sim, eles te olham como o doidinho do digital. Cabe a você mostrar que você sabe se portar diante do cliente, argumentar estrategicamente, discutir métricas, falar sobre posicionamento, contestar uma estratégia de mídia, enfim, mostrar amplitude e consistência na sua formação. Ah, ajudá-los sempre ajuda.

Missão cumprida, depois que você tem a confiança de todas as áreas, pode ser que caia um job completo na sua mão. Dos grandes. Daqueles desafiadores, de reposicionar uma grande marca por exemplo. Aqui você estará no ponto zero de novo. Sim, todos confiam em você, mas praquelas coisas do dia a dia, aqueles projetos mais malucos. Aqueles que não comprometem o business da agência. Não pra mudar o mundo de uma marca. É justo, não se abata. Você precisa sim se provar novamente. E pode até ser que o caminho que você escolha pra resolver o projeto reviva todas aquelas desconfianças que você julgou ultrapassadas. Principalmente se esse caminho for realmente diferente de tudo o que as pessoas esperavam poder apoiar.

Nessa hora da verdade, sinto avisar, ser diferente não te ajudará. Defender um caminho novo poderá parecer imaturidade, teimosia, irresponsabilidade. Você precisará ter muita certeza do que tá fazendo pra enfrentar essa briga. Ter fé na visão de seus líderes e aliados. Fé pra convencer criativos a gerarem idéias mais louquinhas, mesmo que a princípio sejam pra apoiar idéias tradicionais. Fé pra enxergar o potencial dessas idéias, dar corpo, criar novas, agregar uma estratégia, e transformá-las então numa linha inteira de comunicação, nova, impesquisável, beta e convergente. Pode ser que todos achem o caminho tradicional melhor, talvez até quem criou o novo caminho. E então pode chegar a hora de você bater o pé. Peitar. Por mais sozinho que pareça, você não estará. Conte com as lideranças. E lembre-se, ao menos a companhia do risco você tem. E como um mendigo no Shopping, o risco afasta as pessoas.

Por fim, caso dê tudo certo, a linha nova seja escolhida e vá pro ar, esse jeito novo de fazer comunicação encante o cliente e os consumidores, tenha cuidado. Esse novo formato é mais vulnerável, as redes sociais estão aí pra fiscalizar. No meio do processo, a qualquer comentário ou insegurança, poderão voltar as desconfianças. Lembre, você ainda é o cara do digital. Um forasteiro. É preciso ter sempre alguém mais experiente por perto. Não dá pra deixar uma marca tão valiosa na sua mão. Tudo bem, a esse ponto talvez ela já esteja. Essa é a hora em que você aceita. Divide os méritos. Confraterniza. Pensa nos elogios que poderia ter ouvido. E toca a vida. Comemorando, muito.

Afinal, você passou de fase. On? Off? Que nada. Isso é passado. Você agora é convergente. "Beta mode ON. Separação OFF. Then press start to enter next stage".