terça-feira, 1 de julho de 2008

Cannes 2008: menos produto, mais gente.

Estive em Cannes esse ano.
O que me leva ao post post Cannes.
Ei-lo.

São muitas as mudanças.
Muitas as nomenclaturas, tendências,
Web 3.0, enganging adverteinament, collaborative tools, and so on…

Passando tudo isso numa peneira prática, a mim sobra uma única verdade.

Ganhamos mais ferramentas para lidar com gente.

Sim, gente, ser humano, eu, você, o cara que trabalha do seu lado.
Gente comum, em suas mais básicas e inconfessáveis angústias e aspirações.

O Grand Prix de Print fala sobre gente:
Crianças fazendo travessuras politicamente incorretas, alguém aí não se identifica?

HBO Voyeur, GP de Promo e Outdoor fala sobre gente.
Gente que adora bisbilhotar a vida alheia mas paradoxalmente não expõe sua faceta voyeur, até que uma marca vem e o faz.

Uniqlock, GP de Cyber e Titanium, não fala de roupa, não fala de música, não fala de tempo, fala de gente. Da curiosidade humana, que nos faz esperar ansiosamente para assistir a cena que aparecerá daqui a 5 segundos, e a próxima, a próxima, e a próxima.

Halo, GP de Integrated não fala de videogame, não fala de guerra, fala de gente. A campanha confere a personagens de pixels sentimentos e angústias de carne e osso. Humaniza, envolve, seduz. Nos faz acreditar.

Whooper Freakout, não fala de consumo, de hambúrguer.
Fala de gente, de como as pessoas criam vínculos humanos com os produtos que consomem. E o vídeo nada mais é que uma sequência de reações humanas, instintivas, reais e autênticas.

Gorilla, GP de filme, não fala de música, nem de macaco. Fala de gente, da humanização de um primata agindo como um homem. Grande parte do Buzz vem da dúvida, se era 3D, se era um homem fantasiado, enfim, o quão humano aquilo realmente era.

Lead of India, GP de Titanium e Marketing Direto, e o meu favorito, fala sobre gente.
Sobre gente que precisa se sentir parte de um grupo para se reafirmar como gente, como povo, como agente modificador do mundo (dá-lhe psicologia das massas).

Talvez a publicidade reflita um momento de contestação, de auto-afirmação da condição humana frente ao salto tecnológico desproporcional dos últimos anos.
Um macaco é humano? Um herói 3D é humano? Espiar é humano? O mundo é humano?

Divagações à parte, Cannes é motivador, mas é sorrateiro.
Sim, o mapa da mina é simples, temos que falar de gente.
Mas também temos que deixar a gente falar de si mesma.
E é aí que entram as novas ferramentas.
Elas nos dão um poder que a comunicação nunca teve.
Seja o poder de mudar o dia de uma pessoa (Whooper Freakout).
Ou o poder de mudar a história de um país (Índia).


P.s.: Talvez as próximas pastas que eu peça pra ver sejam de antropólogos, ou psicólogos.